Passados quase 200 anos desde que, em 1846, o médico húngaro Ignaz Phillip Semmelweis constatou que a simples prática de lavar as mãos era a melhor forma de prevenir a contaminação por bactérias, um grande número de médicos, que têm a obrigação de evitar a proliferação de doenças, não lava as mãos, pondo em risco a saúde dos pacientes. Pelo menos é isso que comprova levantamento feito este ano pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em cinco hospitais de grande porte do país. Os resultados são assustadores. A Anvisa constatou que 60% dos profissionais de saúde não higienizam as mãos antes e depois de terem contato com os pacientes.
A situação é tão grave que a Anvisa vai exigir que hospitais, clínicas e demais estabelecimentos de saúde disponibilizem produtos de higiene (álcool) para médicos, dentistas, enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, entre outros. O produto poderá ser oferecido em forma de gel, líquido ou espuma, mas seu fornecimento será obrigatório. O prazo para a discussão da proposta, por meio de consulta pública, se encerra amanhã. Depois disso, os estabelecimentos de saúde terão até 180 dias para se adequarem. “Vamos consolidar as sugestões que recebemos de todo o país. Depois de publicada a norma, ela passará a ser obrigatória”, explica Janaína Sallas, chefe da Unidade de Investigação e Prevenção das Infecções da Anvisa. Segundo Sallas, o procedimento é uma medida básica que evita a disseminação da infecção hospitalar.
A especialista destaca que, muitas vezes, a baixa adesão dos profissionais ao hábito de lavar as mãos está relacionada com a grande carga de trabalho. “A Anvisa não está pedindo que a água e o sabão sejam substituídos. Uma lavagem de mãos com sabonete benfeita dura, em média, um minuto e meio. Com o álcool, o tempo passa para 15 segundos”, informa. A proposta é que o produto seja posto nos pontos de assistência e tratamento, salas de triagem e de pronto atendimento, e unidades de urgência e emergência. O álcool deve estar em ambulatórios, clínicas e consultórios, serviços de atendimento móvel e nos locais em que são realizados procedimentos invasivos.
Os dispensadores deverão ficar em lugar visível e de fácil acesso, à beira do leito do paciente, de forma que os profissionais de saúde não precisem deixar o local para fazer a higienização. “A proposta é para que todos tenham acesso ao produto nos cinco momentos preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS): antes e depois do contato com o paciente, antes da realização de procedimentos assépticos, após exposição a sangue e outros fluidos corporais e após contato com ambiente próximo ao doente”, orienta Janaína.
Mas mesmo com todo o esforço, a norma pode, ainda assim, passar despercebida. Uma pesquisa de 2009, feita em um hospital público de Ipatinga (MG), pela enfermeira Fernanda Mendes Santos, do Centro Universitário do Leste de Minas (Unileste), comprovou que apesar da disponibilidade dos produtos para a lavagem e da existência de cartazes explicando como lavar as mãos corretamente, os profissionais não adotaram o procedimento e passaram por lavatórios como se eles não existissem. “Fernanda sentou-se ao lado de uma pia e observou que o uso de água e sabão era mínimo. E não são só os médicos, outros trabalhadores também não têm o hábito de lavar as mãos. É um gesto indispensável, de eficácia documentada em estudos bem antigos. Num ambiente hospitalar, há bactérias multirresistentes, que podem ser transportadas de um doente para o outro”, comenta a orientadora da pesquisa, Virgínia Maria da Silva Gonçalves, professora de enfermagem e doenças transmissíveis do Unileste.
Fonte: Correio Braziliense-Luciane Evans/consumidorrs)
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