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domingo, 28 de fevereiro de 2010

FORÇA DA INDÚSTRIA DA CERVEJA!


Fábrica de cerveja
A primeira década do século XXI termina registrando o enorme sucesso comercial do ramo da indústria das cervejas no Brasil, apesar da crise econômica mundial (talvez um pouco por esta influenciada). “Nunca neste país se vendeu (e se bebeu, naturalmente) tanta cerveja como agora”. Pode-se estimar que a produção de cerveja no Brasil dobrou nos últimos dez anos, acompanhando a curva de crescimento do consumo da década anterior que já mostrava um crescimento ano a ano.
Outras bebidas alcoólicas têm, também, importante participação, mas não tanto como a cerveja, uma vez que o vinho e a cachaça têm limitações contra a livre e maciça propaganda. A partir de 1996, com a promulgação da Lei 9.294/96, a maciça propaganda das cervejas (então excluídas do controle da publicidade de bebidas alcoólicas ---o vinho e a cachaça ficaram sob controle---), as cervejarias aumentaram em mais de 100% a sua produção em nosso país.
E mais ainda, o que nos preocupa, com relação à área da Saúde Pública, é o enorme interesse de outras grandes empresas de cerveja do mundo virem para o Brasil de olho neste “saudável” mercado com ampla e irrestrita liberdade de propaganda estimulando o consumo sustentado.
O nosso consumo per capita já é significativo: em torno de 60 lts/pessoa/ano, sendo que em grandes cidades como o Rio e São Paulo, por exemplo, passa de 100 lts per capita. Estamos chegando mais perto dos países com grande nível de consumo.
Deste modo, o Brasil passou a ser o 3º maior produtor mundial de cerveja (10,8 bilhões lts/ano), depois da China (em 1º com 35/ano) e dos EUA (em 2º com 23,8 /ano). Para 2010, a expectativa da indústria é passar dos 12 bilhões de lts/ano, aumento de 10% na produção (e consumo), graças ao excelente marketing e ao fato de ser 2010 o ano da Copa do Mundo na África do Sul, que tem, inclusive o patrocínio desta indústria.
Ao contrário do que se deveria considerar nesta lei (9294/96), a cerveja é bebida alcoólica como o vinho, a cachaça, o uísque, a vodka, etc. e possui a mesma quantidade de álcool por dose padrão (uma lata ou uma tulipa de 300 ml), tendo 5% de teor alcoólico, contém 15 ml de álcool puro como uma taça de vinho (150 ml) ou uma dose de cachaça ou uísque (40 ml) que têm igualmente cerca 15 ou 16 ml de álcool puro na sua composição. Portanto, como se vê, cerveja não é bebida (alcoólica) fraca.
Não se trata aqui de demonizar o álcool, ou a cerveja em particular, mas de fazer algo parecido com a campanha de prevenção dos problemas do cigarro. Fortes campanhas de informação e de conscientização das conseqüências sobre a saúde e sobre a segurança relacionadas com o uso e/ou abuso de bebidas alcoólicas, incluindo a mais consumida que é a cerveja, deveriam ser implementadas pelo governo e outras instituições da Sociedade Civil organizada.
No entanto, o que todos nós estamos fazendo? Assistindo, quase impotentes, às perdas e os danos relacionados ao uso, abuso e dependência das bebidas alcoólicas. Preocupados mais em cuidar das conseqüências (mortos e feridos dos acidentes diários de trânsito, no trabalho ou em casa, das centenas de milhares de doentes, dos dependentes e de seus familiares, do precoce alcoolismo dos jovens, etc.) do que em enfrentar o problema de forma global e sistêmica; precisamos melhorar nossas estratégias de políticas públicas. Existem muitas dificuldades a serem enfrentadas, desde o forte lobby da indústria à cultura do beber associada a festas, beleza, sensualidade, bem-estar, sucesso e felicidade, dinheiro ou boa posição social, gregarismo.
Entretanto, não podemos deixar de considerar os gastos do Governo brasileiro, e da sociedade em geral, com os milhares de mortos e feridos/ano dos acidentes de trânsito dos fins de semana; mais de 30.000 crianças, que nascem com déficit ou distúrbio mental decorrentes da SAF (Síndrome Alcoólica Fetal, pelo uso de álcool na gravidez); milhares de leitos hospitalares clínicos e psiquiátricos, além dos do CTI e das Emergências, ocupados por pacientes com doenças decorrentes do álcool; agressões e ferimentos devido à violência contra terceiros, principalmente mulheres e crianças.
Na minha estimativa, a grosso modo, os gastos gerais com os problemas relacionados com o uso, abuso e dependência do álcool, podem chegar a mais de 4 vezes o orçamento do Ministério da Saúde, ou seja, algo em torno de 7% do nosso PIB!
Sem dúvida, estamos diante de um grande e complexo desafio no âmbito da Saúde Pública e da Segurança Social!
(Extrato de texto (O sucesso do mercado da cerveja no Brasil e os prejuízos do Sistema de Saúde (público e privado)) do Prof. José Mauro Braz de Lima, PhD. - Fac. de Medicina da UFRJ - Coord. do Programa de Álcool e Drogas da UFRJ (CEPRAL), Diretor do Hospital Escola São Francisco de Assis, da UFRJ. Fonte: ABEAD)

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