Centenas de milhares de vítimas de violência doméstica na América Latina permanecem nos lugares onde sofrem maus tratos porque não têm opção de moradia, revela um estudo de uma ONG com sede em Genebra, na Suíça, divulgado nesta sexta-feira (16).
O relatório do Centro pelo Direito à Moradia contra Despejos (Cohre), intitulado "Um Lugar no Mundo", analisa a questão da violência contra a mulher no Brasil, na Argentina e na Colômbia.
Nesses países, diz o estudo, "a falta de acesso a uma moradia adequada, incluindo refúgios para mulheres que sofrem maus tratos, impede que as vítimas possam escapar de seus agressores".
"A dependência econômica aparece como a primeira causa mencionada pelas mulheres dos três países como o principal obstáculo para romper uma relação violenta", diz o estudo.
A organização de direitos humanos entrevistou dezenas de mulheres que já foram vítimas - ou continuam sendo - de violência doméstica em cada um desses três países analisados.
"A partir dessas entrevistas, surge claramente que o importante para essas mulheres é saber para onde poderão ir quando decidem romper o círculo da violência doméstica."
Segundo a Cohre, "a falta de solução para o problema da moradia pode ser determinante para que elas decidam continuar ou não uma relação violenta".
Muitas das mulheres vítimas afirmaram à ONG ter a alternativa de se mudar para a casa de um amigo ou parente logo após sofrerem uma agressão.
"Mas, com o passar do tempo, e se sentindo incapazes de assegurar uma solução permanente ou mesmo de transição para o problema de moradia, essas mulheres, frenquentemente, não têm outra saída a não ser voltar a viver com seu agressor", diz o estudo.
O estudo afirma que, apesar de a maioria dos países da América Latina ter altíssimas taxas de violência doméstica, entre 30% e 60% das mulheres da região, dependendo do país, as políticas públicas "quase nunca" levam em conta a questão do direito à moradia das mulheres.
A ONG afirma que esse problema afeta sobretudo as mulheres pobres que vivem em comunidades carentes.
Muitas mulheres, principalmente as das classes desfavorecidas, realizam trabalhos em setores informais da economia ou se dedicam às atividades do lar (podendo fazer ambos) e ficam sujeitas à renda do companheiro.
No caso das mulheres entrevistadas pela Cohre, boa parte cuida apenas das tarefas do lar: 27% no Brasil e quase 25% na Argentina e na Colômbia. Muitas relataram que não trabalham a pedido dos maridos.
Elas também afirmaram viver mais episódios de violência em épocas de crises econômicas ou de aperto no orçamento, quando são tratadas como "inúteis, gastadoras e más administradoras do dinheiro".
No Brasil, os números da violência doméstica compilados por organizações internacionais não são recentes.
Uma mulher em cada quatro já foi vítima de agressões por seu marido ou companheiro, segundo o informe nacional brasileiro ao Comitê para a Eliminação para a Discriminação contra as Mulheres (CEDAW, na sigla em inglês), que corresponde ao período de 2001 a 2005. (Fonte: G1.globo.com)
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