O sequenciamento, feito por um grupo internacional de cientistas a partir de DNA extraído de ossos com cerca de 40 mil anos, permitirá entender melhor a evolução humana.
Uma evidência importante resultante do trabalho já está no próprio artigo que descreve o sequenciamento: a de que os neandertais cruzaram com os primeiros representantes do homem moderno. O resultado do cruzamento é que pedaços do genoma do neandertal estão presentes nos genomas de grande parte da população mundial atual.
“Agora podemos dizer que houve troca de genes entre os neandertais e os humanos modernos”, disse o primeiro autor do artigo, Richard Green, professor de engenharia biomolecular da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, nos Estados Unidos.
Green começou a trabalhar no sequenciamento quando estava no Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária. O instituto é dirigido por Svante Pääbo, que também coordena o Projeto do Genoma do Neandertal, que envolve um consórcio de instituições de pesquisa em diversos países na Europa e nos Estados Unidos.
“A sequência genômica do neandertal permite que comecemos a definir todas as características de nosso genoma que são diferentes de nosso parente evolutivo mais próximo”, disse Pääbo.
A comparação com os genomas do chimpanzé e do neandertal permitiu que os autores do estudo identificassem uma série de características genéticas únicas e exclusivas do homem moderno.
Genes envolvidos no desenvolvimento cognitivo, na estrutura do crânio, no metabolismo energético e na morfologia da pele estão entre aqueles destacados no estudo como tendo passado por importantes mudanças na evolução humana recente.
“Apenas arranhamos a superfície. O genoma do neandertal é uma mina de ouro de informações a respeito da evolução humana recente e será muito usado por muitos anos”, disse Green.
Os neandertais coexistiram com o homem moderno na Europa durante milhares de anos e evidências fósseis levaram alguns cientistas a especular que teria ocorrido o cruzamento entre as espécies. Mas o sequenciamento mostrou que há sinais de DNA de neandertal não apenas no genoma de europeus atuais, mas também em habitantes do leste da Ásia e até de Papua-Nova Guiné, onde os neandertais nunca viveram.
“O cenário não é o que a maioria imaginou. Encontramos o sinal genético dos neandertais em todos os genomas de não-africanos, o que implica que a mistura ocorreu muito cedo, provavelmente no Oriente Médio, e é compartilhada com todos os descendentes dos primeiros humanos que deixaram a África”, disse Green.
Mas os pesquisadores não encontraram evidência de algo geneticamente importante que o homem moderno tenha herdado do neandertal. “O sinal está distribuído esparsamente pelo genoma, como migalhas de pão que sinalizam algo que ocorreu no passado”, disse.
O esboço da sequência do genoma do neandertal agora divulgado é composto de mais de 3 bilhões de nucleotídeos. A sequência foi derivada do DNA extraído de ossos encontrados na caverna Vindiga, na Croácia, com idades entre 38 mil e 44 mil anos.
Sequenciar o genoma do neandertal foi um trabalho muito complexo, uma vez que os ossos não estavam bem preservados e mais de 95% do DNA extraído era de bactérias e de outros organismos que colonizaram as amostras.
Ao analisar o genoma, os pesquisadores estimam que as populações ancestrais do neandertal e do homem moderno tenham divergido entre 270 mil e 440 mil anos atrás. A estimativa é que os cruzamentos entre as espécies tenham ocorrido entre 50 mil e 80 mil anos atrás.
O artigo A Draft Sequence of the Neandertal Genome (10.1126/science.1188021), de Richard Green e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org. (Fonte: FAPESP)
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