O Brasil está fechando o cerco aos cigarros aromatizados. Assim como nos Estados Unidos e no Canadá, que barraram sua comercialização no ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vem analisando a composição desses produtos e trabalha para comprovar a tese de que eles incentivam o consumo precoce, inclusive entre crianças, e causam mais dependência. O passo seguinte é pedir a proibição da venda no País.
Hoje, eles são encontrados por aqui nos mais diversos sabores, do tradicional menta, passando pelo de cereja (o preferido das garotas), até chocolate e baunilha.
E as novidades não param de chegar. Há um mês, a Souza Cruz lançou um com cápsula de mentol no filtro, que, ao ser apertada, libera o sabor. “O jovem é atraído pelos aromas variados e vai se tornando dependente”, afirma a psiquiatra Célia Lídia da Costa, coordenadora do Núcleo de Apoio ao Tabagista do Hospital do Câncer A. C. Camargo de São Paulo. Segundo ela, ainda há poucos estudos sobre os saborizados, mas já se sabe que quem os consome fuma mais do que os adeptos do tradicional, já que o gosto da nicotina é camuflado.
Pesquisa feita entre 2002 e 2005 pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), com a Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, revelou que 44% dos estudantes brasileiros entre 13 e 15 anos que fumam regularmente preferem os aromatizados. A pesquisa ouviu 13 mil alunos de 170 escolas de dez capitais brasileiras.
“Os cigarros com sabor são uma alternativa para atrair novos fumantes,” afirma o diretor-geral do Inca Luiz Antônio Santini. “Daqui a pouco lançam até de cupuaçu”, critica o diretor da Anvisa José Agenor Álvares da Silva.
A agência, que registra esses produtos (são cerca de 20), está se baseando na lei canadense para criar uma regulamentação específica contra os aromatizados.
O toxicologista André Luiz da Silva, da Anvisa, explica que os sabores são a arma mais poderosa para facilitar a dependência, já que derrubam as barreiras do gosto amargo e do cheiro forte do cigarro. “Vencidos esses impactos, a nicotina faz o resto, que é viciar.” Segundo ele, a menta, por exemplo, tem poder anestésico, que ameniza a irritação na garganta, e o chocolate, por sua vez, é um broncodilatador, aumentando a absorção da nicotina pelo organismo.
O auxiliar administrativo Caio das Neves Izidoro, 22 anos, se considera viciado em cigarro de cravo desde os 16 anos. Costumava fumar um maço por dia, mas, no momento, se esforça para parar. “Hoje fumo dois por dia e, quando dá vontade, jogo videogame.” A produtora de vídeo Thisbe Fagá, 26, se entusiasmou tanto com os de cereja, quatro anos atrás, que até criou a comunidade no Orkut “Eu fumo cigarro de cereja”, com 1.717 membros. Ela conta que não fuma mais, mas que seus amigos que experimentaram a novidade na época se tornaram viciados. “Enjoei, foi só empolgação, hoje odeio cigarro.” Infelizmente, ela é uma exceção nas estatísticas.(Fonte: Revista Istoé, Comportamento, 14/4/2010/ Rede ACT)
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