Ao constatar que uma lei proibindo o fumo em ambientes coletivos estava prestes a ser aprovada no Brasil, a indústria do cigarro agiu rápido para tentar o mal menor. O grupo decidiu promover fumódromos, associá-los ao respeito à liberdade e direitos individuais para afastar ao máximo a associação da medida aos males do fumo passivo.
A estratégia adotada pelas empresas no Brasil é agora revelada em um estudo feito por pesquisadores brasileiros e americanos, com base nos arquivos com documentos internos da indústria do tabaco.
"Na época, a edição da lei foi considerada um avanço. Não imaginávamos que ela seria um trunfo da indústria, uma saída para garantir um público cativo ainda por um bom tempo", afirma a coordenadora do trabalho, Stella Aguinaga Bialous. Um instrumento, completa, que a indústria resiste em abandonar. "É só ver todo o lobby ainda muito atuante para impedir o fim dos fumódromos."
Por um acordo judicial, documentos internos das indústrias de cigarro foram transferidos para dois arquivos públicos, um nos Estados Unidos e outro na Grã-Bretanha. Nesses arquivos, os pesquisadores encontraram uma série de referências à reação da indústria à Lei Federal 9.249, de 1996, que restringia o fumo em lugares públicos.
"Uma lei federal, aprovada nas duas instâncias do Congresso Nacional irá restringir o fumo em locais públicos. Como os termos da restrição devem ser regulamentados nos próximos 60 dias, a indústria está trabalhando para tentar assegurar uma linguagem que permita uma adaptação razoável", afirmava um dos trechos citados no estudo.
A estratégia contou com o apoio de parceiros que se mostram fiéis até os dias de hoje, como associações de bares, restaurantes e de hotéis. Financiados pela indústria do tabaco, mas sem que o patrocínio aparecesse de forma explícita, representantes do setor desenvolveram programas de convivência entre fumantes e não fumantes. Era o chamado programa de Convivência em Harmonia.
(Fonte: LF-O Estado de S.Paulo/Rede ACT)
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